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- 18 de junho de 2014
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Para mudar o mundo é preciso começar comendo o pão e bebendo o vinho
“Corpus Christi” é mais um feriado qualquer do que um motivo de celebração para a maioria dos protestantes. Em artigo publicado aqui no Portal, o professor Carlos Caldas afirma que “’Corpus Christi’ é uma tradição católica ocidental e o protestantismo e o cristianismo ortodoxo oriental não têm nada que seja similar. Mas a celebração desta festa faz pensar em algo importante, a celebração da eucaristia por Jesus e seu significado”.
Hoje, às vésperas do dia de Corpus Christi, e em meio aos nossos dias confusos, o portal quer ajudar o leitor a dar um significado bem prático à Ceia do Senhor, com o artigo do colunista da revista Ultimato, Rubem Amorese.
QUERO VOLTAR A SER FELIZ*
Recebi um texto pela internet, com o título acima, no qual uma senhora lamenta a degradação de nossa sociedade. Entre outras coisas, ela diz:
Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões. Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Confiávamos nos adultos; tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror [...]. O que aconteceu conosco? Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos. Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas! [...] Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo que meus netos um dia temerão. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. [...] Quero de volta a minha dignidade, a minha paz. Quero de volta a lei e a ordem. Quero a esperança, a alegria; quero voltar a ser gente.
Prezada senhora, quero fazer a minha parte. A propósito, quero ser gente ao meu modo: aquela gente solidária a que a senhora se refere.
Nesse momento, penso em nossa Santa Ceia, momento em que comemos o pão e bebemos o vinho, “alimentando-nos” do gesto solidário de Jesus e fortalecendo nossa identidade de seguidores seus; de gente que se liga aos outros, que se oferece em sacrifício, que perdoa, que ouve, que se humilha.
A Ceia sempre me traz de volta à porta estreita e ao caminho pedregoso do discipulado de Jesus, na busca de ser como ele foi; tentando, com o auxílio do Espírito Santo, viver a aliança que ele nos legou.
Ali eu busco discernimento para não me tornar incoerente em relação a esse memorial cristão; para não comer e beber juízo de Deus sobre mim. Isso acontece se minto, ao celebrar o que não sou nem quero ser. Se não me disponho a lutar contra essa podridão que me quer escravo submisso.
Sim, senhora, quero ser gente solidária porque fui alvo da solidariedade de Deus; gente da aliança, porque fui objeto de uma aliança sacrifical, que culminou na morte de seu filho.
Quero ser gente ética, porque fui surpreendido pela ética que nasce do amor ativo; que busca fazer o bem, que odeia o mal, que aborrece a mentira, o engano, a falsidade, a arrogância, o orgulho e a soberba, conhecidas raízes de comportamento antiético. Quero ser gente de moral, porque fui salvo do engano e da mentira em que vivia, e tive uma consciência lavada, para viver na luz, onde Deus está, buscando comunhão com gente boa, para construirmos um mundo melhor.
Há um problema: não sou capaz dessas coisas. Pisco o olho e estrago tudo. Mas se Deus me ajudar a celebrar continuamente sua Ceia, quando tudo parecer perdido, um milagre há de acontecer cá no meu coração: a graça da Ceia. Graça da contrição, que pede perdão; graça do perdão que perdoa; graça da misericórdia, que dá e recebe; graça da humildade que nos iguala ao pior de todos. Graças essas que atestam a presença e o poder do Espírito entre nós. E esse Espírito faz toda a diferença, pois é capaz de mudar meu ser. Se eu não cresse nisso, estaria desanimado, pois seria como tentar me levantar pelos cabelos. Para esse tipo de mudança, não há neurolinguística que funcione nem autoajuda que resolva. Só o poder de Deus.
Sim, senhora, também quero voltar a ser feliz; quero atender à sua convocação, ao meu modo. E gostaria de começar a mudar o mundo a partir de mim mesmo, como a senhora sugere. Comendo o pão e bebendo o vinho.
*Retirado do livro Ponto Final, Editora Ultimato.
Leia também
» Por trás do Corpus Christi
Hoje, às vésperas do dia de Corpus Christi, e em meio aos nossos dias confusos, o portal quer ajudar o leitor a dar um significado bem prático à Ceia do Senhor, com o artigo do colunista da revista Ultimato, Rubem Amorese.
QUERO VOLTAR A SER FELIZ*
Recebi um texto pela internet, com o título acima, no qual uma senhora lamenta a degradação de nossa sociedade. Entre outras coisas, ela diz:
Quando criança, ladrões tinham a aparência de ladrões. Mães, pais, professores, avós, tios, vizinhos eram autoridades presumidas, dignas de respeito e consideração. Confiávamos nos adultos; tínhamos medo apenas do escuro, de sapos, de filmes de terror [...]. O que aconteceu conosco? Ladrões de terno e gravata, assassinos com cara de anjo, pedófilos de cabelos brancos. Professores surrados em salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas! [...] Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo que perdemos. Por tudo que meus netos um dia temerão. Pelo medo no olhar de crianças, jovens, velhos e adultos. [...] Quero de volta a minha dignidade, a minha paz. Quero de volta a lei e a ordem. Quero a esperança, a alegria; quero voltar a ser gente.
Prezada senhora, quero fazer a minha parte. A propósito, quero ser gente ao meu modo: aquela gente solidária a que a senhora se refere.
Nesse momento, penso em nossa Santa Ceia, momento em que comemos o pão e bebemos o vinho, “alimentando-nos” do gesto solidário de Jesus e fortalecendo nossa identidade de seguidores seus; de gente que se liga aos outros, que se oferece em sacrifício, que perdoa, que ouve, que se humilha.
A Ceia sempre me traz de volta à porta estreita e ao caminho pedregoso do discipulado de Jesus, na busca de ser como ele foi; tentando, com o auxílio do Espírito Santo, viver a aliança que ele nos legou.
Ali eu busco discernimento para não me tornar incoerente em relação a esse memorial cristão; para não comer e beber juízo de Deus sobre mim. Isso acontece se minto, ao celebrar o que não sou nem quero ser. Se não me disponho a lutar contra essa podridão que me quer escravo submisso.
Sim, senhora, quero ser gente solidária porque fui alvo da solidariedade de Deus; gente da aliança, porque fui objeto de uma aliança sacrifical, que culminou na morte de seu filho.
Quero ser gente ética, porque fui surpreendido pela ética que nasce do amor ativo; que busca fazer o bem, que odeia o mal, que aborrece a mentira, o engano, a falsidade, a arrogância, o orgulho e a soberba, conhecidas raízes de comportamento antiético. Quero ser gente de moral, porque fui salvo do engano e da mentira em que vivia, e tive uma consciência lavada, para viver na luz, onde Deus está, buscando comunhão com gente boa, para construirmos um mundo melhor.
Há um problema: não sou capaz dessas coisas. Pisco o olho e estrago tudo. Mas se Deus me ajudar a celebrar continuamente sua Ceia, quando tudo parecer perdido, um milagre há de acontecer cá no meu coração: a graça da Ceia. Graça da contrição, que pede perdão; graça do perdão que perdoa; graça da misericórdia, que dá e recebe; graça da humildade que nos iguala ao pior de todos. Graças essas que atestam a presença e o poder do Espírito entre nós. E esse Espírito faz toda a diferença, pois é capaz de mudar meu ser. Se eu não cresse nisso, estaria desanimado, pois seria como tentar me levantar pelos cabelos. Para esse tipo de mudança, não há neurolinguística que funcione nem autoajuda que resolva. Só o poder de Deus.
Sim, senhora, também quero voltar a ser feliz; quero atender à sua convocação, ao meu modo. E gostaria de começar a mudar o mundo a partir de mim mesmo, como a senhora sugere. Comendo o pão e bebendo o vinho.
*Retirado do livro Ponto Final, Editora Ultimato.
Leia também
» Por trás do Corpus Christi
Rubem Amorese é presbítero emérito na Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília. Foi professor na Faculdade Teológica Batista por vinte anos e consultor legislativo no Senado Federal. É autor de, entre outros, Fábrica de Missionários e Ponto Final. Acompanhe seu blog pessoal: ultimato.com.br/sites/amorese.
- Textos publicados: 36 [ver]
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Site: http://www.amorese.com.br
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